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quarta-feira, 4 de junho de 2008

Barrocas cordel


No aniversário da cidade
Não poderia ficar de fora
Por isso fiz esses versos
Pra todo mundo ver agora
Não se aveche meu povo
É rapidinho não demora.


Com a chegada da ferrovia
Construíram a estação
O povo só melhorando
Aumentava a população
Esse povo com certeza
Tinha grande coração.


Com tanta casa e família
Vieram os comerciantes
O primeiro João Afonso
Homem muito interessante
Depois Roberto Queiroz
Que era também brilhante.


O Senhor João Afonso
Um homem inteligente
Foi o primeiro comerciante
Vendia pra toda gente
Rapadura, feijão, farinha
Todo tipo de semente.


Carro de boi, lombo de jegue
Era o transporte do lugar
Quem não tinha seu jumento
A pé tinha que andar
Às vezes longas distancias
Era mesmo de impressionar.


Motivo do nome Barrocas
Eu vou lhe dizer porque
Existiam dois tanques
Que quando vinham a encher
Eles dois se ajuntavam

Dava gosto de se ver.


Barrocas já era vila
Tinha até dia de feira
Era bom o movimento
Uma feira de primeira
Vinha pra fazer negócio
Gente da região inteira.


Negociava de tudo
Panela, pote, frigideira
Utensílios de barro
Candeeiro, até chaleira
Miudeza, doces massas
Era tudo de primeira.


O povo barroquense
De tudo ali plantava
Feijão milho mandioca
Batata doce, também fava
Gente muito inteligente
Tempo ruim não esperava.


Dos meios de transporte
O trem foi o principal
Ali levava de tudo
Até mesmo pedra e pau
Pro povo a Maria fumaça

Era mesmo sensacional.


Pedro Teles fazendeiro
Eta homem lutador
Terra para o cemitério
E pra igreja doou
O sonho de uma igreja
Logo se concretizou


O santo padroeiro
Passou a ser São João
Homenagem a João Afonso
Homem de bom coração
Tomava conta da capela

Tava em toda celebração.


Em outubro de 67
Rede elétrica é inaugurada
Vinha de Paulo Afonso
Por todos foi esperada
Com a ordem de Brasília
A verba foi destinada.


O Senhor Francisquinho
Teve um papel importante
Chegou a ir pra Brasília
Não descansou um instante
Tudo isso ele fez
Pra ver Barrocas brilhante.


São João, também Natal
Eram as festas animadas
Ate hoje elas são
Sempre muito esperada
Se esse povo tem motivo
Logo uma festa é armada.


A vila cresceu muito
E logo virou cidade
Toda rua todo canto
Era só felicidade
O sonho daquela gente
Tornava-se realidade.

Mas logo veio o pior
Barrocas logo caiu
Fizeram tudo escondido
Quem fez isso, assim agiu
O responsável pela maldade
Ninguém sabe ninguém viu.

Derrubaram a cidade
Não a moral daquela gente
Que lutava todos os dias
Por uma vida decente
Nunca iria desistir
Colocaram isso na mente.


Depois de muitas lutas
Barrocas se reergueu
Voltou a ser cidade
Era um direito seu
Quem queira o contrario
Coitadinho se perdeu.

Hoje tem água encanada
Tem energia a vontade
O calçamento ta na rua
Barrocas hoje é cidade
Tudo graças a seu povo
Que lutou por liberdade.

Hoje nossa cidade
Faz gosto a gente ver
De tudo tem um pouco
Ela não para de crescer
Graças a essa gente
Que exige pra valer.


Nossa Barrocas é rica
Tem ouro e tem sisal
Agricultura pecuária
Isso é muito legal
Tem um povo muito alegre
Que vive em alto astral.

Cidade de gente simples
Muito do trabalhador
Um povo que não desiste
Êta povo lutador
Enfrenta sempre os problemas
Com coragem e amor.

Terra no semi-árido
Uma bela região
Cidade abençoada
Pelo Santo São João
Que é seu padroeiro
Protege todo povão.


Pra ficar muito melhor
Só depende de você
Cuidar da sua cidade
É o que se pode fazer
Cobrando e exigindo
Assim ela vai crescer.

Aqui encerra a história
Do povo do meu sertão
Contando um pouco da vida
Com grande dedicação
Muito feliz com os versos
Que fiz de coração.

IRAILTON SANTANA.

Lavagem Cerebral

Racismo preconceito e discriminação em geral
É uma burrice coletiva sem explicação
Afinal que justificativa você me dá para um povo que precisa de união
Mas demonstra claramente
Infelizmente
Preconceitos mil
De naturezas diferentes
Mostrando que essa gente
Essa gente do Brasil é muito burra
E não enxerga um palmo à sua frente
Porque se fosse inteligente esse povo já teria agido de forma mais consciente
Eliminando da mente todo o preconceito
E não agindo com a burrice estampada no peito
A "elite" que devia dar um bom exemplo
É a primeira a demonstrar esse tipo de sentimento
Num complexo de superioridade infantil
Ou justificando um sistema de relação servil
E o povão vai como um bundão na onda do racismo e da discriminação
Não tem a união e não vê a solução da questão
Que por incrível que pareça está em nossas mãos
Só precisamos de uma reformulação geral
Uma espécie de lavagem cerebral
Não seja um imbecil
Não seja um Paulo Francis
Não se importe com a origem ou a cor do seu semelhante
O quê que importa se ele é nordestino e você não?
O quê que importa se ele é preto e você é branco?
Aliás branco no Brasil é difícil porque no Brasil somos todos mestiços
Se você discorda então olhe pra trás
Olhe a nossa história
Os nossos ancestrais
O Brasil colonial não era igual a Portugal
A raiz do meu país era multirracial
Tinha índio, branco, amarelo, preto
Nascemos da mistura então porque o preconceito?
Barrigas cresceram
O tempo passou...
Nasceram os brasileiros cada um com a sua cor
Uns com a pele clara outros mais escura
Mas todos viemos da mesma mistura
Então presta atenção nessa sua babaquice
Pois como eu já disse racismo é burrice
Dê a ignorância um ponto final:
Faça uma lavagem cerebral
Negro e nordestino constróem seu chão
Trabalhador da construção civil conhecido como peão
No Brasil o mesmo negro que constrói o seu apartamento ou quelava o chão de uma delegacia
É revistado e humilhado por um guarda nojento que ainda recebe osalário e o pão de cada dia Graças ao negro ao nordestino e atodos nós
Pagamos homens que pensam que ser humilhado não dói
O preconceito é uma coisa sem sentido
Tire a burrice do peito e me dê ouvidos
Me responda se você discriminaria
Um sujeito com a cara do PC Farias
Não você não faria isso não...
Você aprendeu que o preto é ladrão
Muitos negros roubam mas muitos são roubados
E cuidado com esse branco aí parado do seu lado
Porque se ele passa fome
Sabe como é:
Ele rouba e mata um homem
Seja você ou seja o Pelé
Você e o Pelé morreriam igual
Então que morra o preconceito e viva a união racial
Quero ver essa musica você aprender e fazer
A lavagem cerebral
O racismo é burrice mas o mais burro não é o racista
É o que pensa que o racismo não existe
O pior cego é o que não quer ver
E o racismo está dentro de você
Porque o racista na verdade é um tremendo babaca
Que assimila os preconceitos porque tem cabeça fraca
E desde sempre não para pra pensar
Nos conceitos que a sociedade insiste em lhe ensinar
E de pai pra filho o racismo passa
Em forma de piadas que teriam bem mais graça
Se não fossem o retrato da nossa ignorância
Transmitindo a discriminação desde a infância
E o que as crianças aprendem brincando
É nada mais nada menos do que a estupidez se propagando
Qualquer tipo de racismo não se justifica
Ninguém explica
Precisamos da lavagem cerebral pra acabar com esse lixo que é uma herança cultural
Todo mundo é racista mas não sabe a razão
Então eu digo meu irmão
Seja do povão ou da "elite"
Não participe
Pois como eu já disse racismo é burrice
Como eu já disse racismo é burrice
E se você é mais um burro
Não me leve a mal
É hora de fazer uma lavagem cerebral
Mas isso é compromisso seu
Eu nem vou me meter
Quem vai lavar a sua mente não sou eu
É você

GABRIEL O PENSADOR

A FITOTERAPIA




Um misto de ciência e curanderismo: assim se pode definir o uso terapêutico de plantas ao longo da história humana. E, apesar do respaldo científico que vem ganhando nos últimos anos, o conhecimento da ação medicinal das ervas é baseado no empirismo popular.


Fitoterapia vem do grego e quer dizer - Tratamento (therapeia) Vegetal (Phyton), ou ainda 'A terapêutica das doenças através das plantas'.




Fitoterapia é uma cultura, não apenas uma moda.




A Fitoterapia ou terapia pelas plantas já era conhecida e praticada pelas antigas civilizações.




A prática da fitoterapia tanto quando se faz uso, e ainda mais quando se recomenda precisa estar alicerçada no Conhecimento e na Experiência.




A formação de quem recomenda a prática deve ser baseada em todas as fontes disponíveis possíveis.Sabemos que Hipócrates, o mais ilustre médico da antiguidade só aconselhava medicamentos vegetais.




As plantas contém princípios ativos capazes de nos curar nas diversas doenças.




A medicina jamais errou a respeito das virtudes terapêuticas de centenas de plantas.




Fitoterapia é uma terapêutica:- Racional - Eficaz - Econômica.

POLÍTICA EDUCACIONAL PARA OS ÍNDIOS





Introdução


Avanços e consensos na área de educação escolar indígena se deram tanto no plano legal quanto no plano administrativo. Todavia, ainda não se estruturou um sistema que atenda as necessidades educacionais dos povos indígenas de acordo com seus interesses, respeitando seus modos e ritmos de vida, resguardando o papel da comunidade indígena na definição e no funcionamento do tipo de escola que desejam. A impressão que se tem é que a educação escolar indígena caminha a passos lentos: avança-se em direção a algumas conquistas, mas inúmeros obstáculos se apresentam a cada momento.
Nesse contexto, um registro deve ser feito: a educação escolar indígena virou uma pauta política relevante dos índios, do movimento indígena e de apoio aos índios. Deixou de ser uma temática secundária, ganhou importância à medida em que mobiliza diferentes atores, instituições e recursos. Encontros, reuniões e seminários têm se tornado recorrentes para a discussão da legislação educacional, de propostas curriculares para a escola indígena, de formação de professores índios, do direito de terem uma educação que atenda a suas necessidades e seus projetos de futuro. Hoje não mais se discute se os índios tem ou não que ter escola, mas sim que tipo de escola.
Se nos atermos à legislação, verificaremos um processo lento, mas que segue de forma gradativa e cumulativa, onde o direito à uma educação diferenciada, garantido na Constituição de 1988, vem sendo regulamentado por meio da legislação subseqüente. Além da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, e da Resolução 3/99 do Conselho Nacional de Educação, a educação indígena está contemplada no Plano Nacional de Educação e no projeto de lei de revisão do Estatuto do Índio, ambos em tramitação no Congresso Nacional.
A legislação que trata da educação escolar indígena tem apresentado formulações que dão abertura para a construção de uma escola indígena que, inserida no sistema educacional nacional, mantenha atributos particulares como o uso da língua indígena, a sistematização de conhecimentos e saberes tradicionais, o uso de materiais adequados preparados pelos próprios professores índios, um calendário que se adapte ao ritmo de vida e das atividades cotidianas e rituais, a elaboração de currículos diferenciados, a participação efetiva da comunidade na definição dos objetivos e rumos da escola. A legislação também tem colocado os índios e suas comunidades como os principais protagonistas da escola indígena, resguardando a elas o direito de terem seus próprios membros indicados para a função de se tornarem professores a partir de programas específicos de formação e titulação.
Todavia, essas definições no plano jurídico ainda encontram-se mais como princípios do que como práticas que norteiam os processos de efetivação da escola no meio indígena. Várias são as amarras administrativas que retardam o processo, embora aqui se possa já vislumbrar um cenário diferente de alguns anos atrás.

Da Funai para o MEC



A transferência de responsabilidade e de coordenação das iniciativas educacionais em Terras Indígenas do órgão indigenista (Funai) para o Ministério da Educação, em articulação com as secretarias estaduais de educação, através de decreto da presidência da República (n.26/91), responde em muito pelas alterações ocorridas neste setor. Essa transferência abriu a possibilidade, ainda não efetivada, de que as escolas indígenas fossem incorporadas aos sistemas de ensino do país, de que os então "monitores bilingües" fossem formados e respeitados como profissionais da educação e de que o atendimento das necessidades educacionais indígenas fossem tratadas enquanto política pública, responsabilidade do Estado. Encerrava-se, assim, um ciclo, marcado pela transferência de responsabilidades do órgão indigenista para missões religiosas no atendimento das necessidades educacionais indígenas.
Esse ainda é um processo em curso. É possível elencar vários aspectos positivos dessa transferência de responsabilidades que ensejou o envolvimento de outras esferas do poder público, abrindo novos canais de interlocução para os índios. E é possível, também, demonstrar as inúmeras resistências dessas mesmas esferas de poder em absorver as escolas indígenas, respeitando o direito dos índios à uma educação diferenciada, tarefa que requer novos aportes teóricos, metodológicos e administrativos.




segunda-feira, 2 de junho de 2008

CANTIGAS DE RODA

ERVAS QUE CURAM

RAIZ DA VASSOURINHA: serve para queda dos cabelosPREPARO: você pega a raiz cozinha em quantidade, deixa esfriar e lava os cabelos algumas vezes por semana.
MALVA BRANCA: serve para inflamação no útero e é cicatrizante também. PREPARO:você pega bastante folhas cozinha coloca em uma bacia, deixa esfriar e senta por 15 minutos, feito este processo, algumas vezes você sente logo o resultado.
FOLHA DA GOIABEIRA: serve para diarréiaPREPARO: pega as folhas lava bem, coloca no copo, ferve a águae põe dentro das folhas e abafa, deixa esfriar e depois toma.
FOLHA DO EUCALIPTO: serve para renite alérgicaPREPARO: pega bastante folha, coloca em uma panela, põe água fervente depois tampa, só pode destampar quando for dormir, por isso que só pode fazer a noite, para ter um sono mais tranquilo, pois desobistrui o nariz.
CAROÇO DE UMBURANA DE CHEIRO: serve para o estômago empachado, (quando comeu algo que não fez bem)PREPARO: pega dois caroços, torra em uma panela pequena, quando der o estalo e porque já está torrado, pega um pano, coloca os caroços e pisa até virar pó, depois morna a água, coloca o pó na água e toma.
FOLHA DO MATRUZ: serve para catarro no peito.PREPARO: pega as folha, bate com leite no liquidificador e toma em jejum de preferência.
(Receitas da minha avó Julina, que passou pra minha mãe Estela que passou para mim Carla).
Carla Andrea

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Dia da Consciência Negra, respeito por favor !








O Dia da Consciência Negra é um dia celebrado no Brasil, dedicado a reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira, o que já deveria ter acontecido há vários anos atrás.
A data foi escolhida por coincidir com o dia da morte de Zumbi dos Palmares (o guerreiro da liberdade), em 1695. O líder negro Zumbi chefiou a maior comunidade de escravos fugitivos da história do continente americano, o Quilombo dos Palmares em Alagoas, derrotado e morto pelas tropas comandadas pelo bandeirante paulista Domingos Jorge Velho, em 20 de novembro de 1695, só entrou para a galeria dos heróis 300 anos depois. Essa data comemorativa só foi fixada no ano de 1995, provando mais uma vez o descaso que o povo negro tem perante a sociedade ainda preconceituosa.
Algumas entidades como o Movimento Negro (o maior do gênero no país) organizam palestras e eventos educativos, visando principalmente crianças negras, procura-se evitar o desenvolvimento do auto-preconceito, ou seja, da inferiorização perante a sociedade.
Segundo o IBGE, no Brasil os negros são correspondentes a menos de 10% da população. No entanto, como o critério é a auto-declaração, estima-se que a população negra seja muito maior. Porem muitos negros se recusam a colocar em entrevistas e pesquisas a opção negra nas questões, por ficar com receio de descriminação e inferiorização perante os demais componentes da sociedade.
Até então, o movimento negro precisava se contentar com o dia 13 de Maio, Abolição da Escravatura – comemoração que tem sido rejeitada por enfatizar muitas vezes a "generosidade" da princesa Isabel, ou seja, ser uma celebração da atitude de uma branca.
A história de vida dos negros sempre foi uma questão para ficarmos indignados, e o pior é que somos uma nação onde dizemos que temos heranças mestiças. Ora, esse mestiço vem desde antes, desde o período colonial, a partir dali o Brasil sofreu miscigenação constante, isso quer dizer que somos um pouco de índio, de branco, de ‘amarelo’ e de negros, nós viemos dessa mistura e então porque esse descaso com os negros?! Será que estamos vivendo numa sociedade onde o que vale é o white power (o poder branco), como já existe nos Estados Unidos?!
É hora de refletir e saber utilizar uma sociedade onde todos têm direito a voz e a vez. Esta na hora da sociedade limpar essa sujeira do pensamento e formar uma sociedade mais decente sem desmerecer a ninguém.
Como diz Gabriel o Pensador em uma de suas letras: “me responda se você descriminaria o Juiz Lalau ou o PC Farias / Não, você não faria isso não / você aprendeu que o preto é ladrão/... racismo é burrice... e se você é mais uma burro, não me leve a mal / é hora de fazer uma lavagem cerebral”.
Portanto faça sua parte e conviva igualmente perante todos, pois existem muitos negros que são considerados como um problema perante a sociedade, mas essa mesma sociedade esquece que existem brancos que cometem erros históricos e nem por isso são exilados da sociedade.


Precisamos acabar com esse lixo da nossa herança cultural, o racismo.

Marcos Oliveira Queiroz


Matéria postada no Jornal @ Nossa Voz (Barrocas-Ba) Novembro 2007.

Movimento Antiglobalização




O movimento Antiglobalização é uma corrente de protesto mundial que reúne diversos grupos contra o capitalismo e o modelo imposto pela globalização. O movimento abrange milhões de pessoas – sindicalistas, estudantes, agricultores, ambientalistas, membros de tribos, ativistas comunitários e veteranos de marchas pela paz e liberdade.
Os diversos participantes desse movimento se uniram na convicção de que uma nova era de paz e justiça mundial pode ser alcançada, por meio do fortalecimento das comunidades locais e da criação de um novo sistema internacional que valorize a cooperação acima da competição. Eles criticam o processo de uniformização das culturas e pregam uma mundialização produzida de forma economicamente justa, valorizando o que é local e procurando desfazer a hierarquia entre os povos.
Num mundo composto por uma imensa pluralidade cultural, os integrantes do movimento antiglobalização acreditam que não existem possibilidades do predomínio de uma cultura dominante, em detrimento das demais. Considerando a existência de inúmeras diferenças, econômicas, sociais e culturais torna-se inaceitável o sistema de globalização nos moldes atuais em que é evidenciado.
A globalização que é apresentada como sinônimo de desenvolvimento, de avanços tecnológicos capazes de diminuir distâncias, de proporcionar melhor qualidade de vida por meio das infinitas possibilidades de bens de consumo oferecidos, tem provocado a destruição de recursos naturais, a eliminação de línguas, a abolição de culturas e a imposição de uma visão de mundo uniforme, disseminada como sendo a correta. Como uma economia globalizada que não promove a melhoria das condições de vida da grande maioria dos habitantes do planeta, mas sim, a utilização de estratégias de dominação a partir de uma postura camuflada, revestida de interesses particulares, visando estritamente à acumulação de capital, o lucro das empresas. Efetivamente, os ativistas da antiglobalização posicionam-se rigorosamente contrários e se assumem como ferrenhos inimigos das grandes corporações simbolizadas por multinacionais, a exemplo da Mc Donald’s, Nike, entre muitas outras.
Os membros desse movimento emergente, defensores da democracia, da paz, do meio ambiente, da diversidade cultural e essencialmente das comunidades locais, têm a certeza de que a sociedade pode e deve progredir de uma maneira diferenciada, mais justa. No entanto, possuem consciência de que não é fácil desafiar o imenso poder das corporações transnacionais.
Contudo, pregam princípios pautados na “utopia” de uma sociedade igualitária, com uma melhor distribuição de renda, na revitalização das cidades, da esfera local, diminuindo o consumo vindo do comércio global e aumentando a vitalidade da própria comunidade. Consideram inadmissível a tomada de decisões que afetam e comprometem a vida de milhões de pessoas, num plano restrito, distante da realidade, das comunidades com as quais pouco se importam. Todavia, vale ressaltar, que não desconsideram a possibilidade de se tirar proveito de idéias novas e produtivas vindas do exterior, que possam promover benefícios a comunidade, ao meio ambiente. Mas, que essas idéias sejam implantadas com recursos e mão-de-obra próprias e locais.

Lorraine Lima Ferreira


Referência:

Disponível em:
www.taps.org.br/Paginas/estiloartigo01.html. Acesso em 28 de maio de 2008.

terça-feira, 27 de maio de 2008

O senso comum como um sistema cultural

A diferenciação entre as sociedades deve ser levada em consideração em todo e qualquer estudo, as sociedades são formadas a partir de práticas herdadas, crenças aceitas, juízos habituais. Toda humanidade é composta de filosofias, artes, religiões e/ou ideologias, que garantem a preservação da propriedade comum. Então é extremamente difícil definir um único tipo de cultura predominante já que existem vários costumes sistematizados em pontos diversos do espaço.
O senso comum é levado em consideração por fazer parte da vida humana como um todo, acaba englobando diversos aspectos norteadores do cotidiano como a religião, a ciência e a ideologia. O bom senso e a falta do bom senso é uma questão “relativa”, pois a construção do senso comum acaba tendo diversificações perante cada simbologia. Cada sociedade tem capacidade de ser exclusiva.


A antropologia nos pode ser útil aqui da mesma forma que é útil em outras situações: ao fornecer exemplos extraordinários, ajuda a situar exemplos mais próximos em um contexto diferente. Se observarmos a opinião de pessoas que chegam a conclusões diferentes das nossas devido à vivência específica que tiveram, ou porque aprenderam lições diferentes com as surras que levaram na escola da vida, logo nos daremos conta de que o senso comum é algo muito mais problemático e profundo do que parece quando o ponto de observação é um café parisiense ou uma sala de professores em Oxford (CLIFFORD GEERTZ).


Essa problemática que nos é apresentada torna o senso comum bastante útil, como o exemplo da feitiçaria citada no texto de Clifford Geertz, onde para alguns olhares, o feitiço, não passa de uma coincidência, ignorância, estupidez ou como um aspecto que pode ser desmistificado pela ciência. Já para os azandinos é uma questão sobrenatural e místico que foi passado de geração para geração e a perpetuação através das mesmas práticas. Se observarmos outras culturas mais “desenvolvidas” podemos observar a crença acaba mudando de símbolo, mas não da sua simbologia, as superstições estão presentes em toda e qualquer sociedade, só que acabam ganhando resignificações ou uma nova moldura. Portanto um fato que vem a ser uma “aberração” para um tipo social, para outro não passa de uma forma corriqueira social e/ou vice-versa.
Sempre haverá diferenciações porque fomos enculturados, ou seja, sofremos um processo de modelação com relação a nossa cultura, então esse olhar diferenciado sobre costumes que fogem a nossa formação cultural acaba sendo mais uma forma de desigualdade social-cultural, pois admitimos uma única visão de cultura e subjugamos as culturas existentes em várias outras regiões. É preciso ter conhecimento que a partir das imagens, sons, dialetos, etc, é formada a identidade cultural de cada povo, sem a presença das crenças não existe cultura e obviamente o senso comum também deixa de existir, culminando assim no desaparecimento de um povo.
Contudo essa herança cultural pode acabar trazendo e perpetuando as formas de desigualdades que Melo cita em seu texto, porém como afirma Toynbee a “sociedade é a rede total de relações entre seus seres”, e é a partir da das imagens associadas e das imagens construídas que definimos a existência do movimento cultural, que, por conseguinte está sujeito a qualquer tipo de julgamento.

Marcos Oliveira Queiroz

REFERÊNCIA:

GEERTZ, Clifford. O Saber Local. Petrópolis, Vozes, 1998.

MELO, Luís Gonzaga de. Antropologia cultural: iniciação e temas. Petrópolis, Vozes, 1987.

A geografia e a cultura

Santos (2001) sinaliza as fábulas que a globalização impetrou no imaginário social, de forma a induzir a crença na simultaneidade das ações, que convergem os momentos vividos, dando ao homem a possibilidade de partilhar em tempo real o acontecer do outro. Nesse sentido, acredita-se na existência de uma aldeia global, alicerçando-se na desterritorialização da humanidade, que destituiu suas fronteiras e tornou-se una.
Nessa perspectiva Haesbaert (2004) desenvolve um estudo sobre o mito da desterritorialização, destacando que o encurtamento das distâncias, a compressão espaço-tempo e a fragilidade das fronteiras não provocaram o fim dos territórios. Ao contrário do que propõe Badie (1996) apud Haesbaert (2004), o território não foi abalado pelos progressos do multiculturalismo, nem tampouco ultrapassado pelos movimentos de mundialização, que tentam homogeneizar os valores e objetivos da humanidade.
Concordamos com Sherer-Warren (1993) quando esta afirma ser necessário diferenciar a homogeneização cultural de uma modernização seletiva. É, inclusive, através da própria globalização que surgem movimentos de afirmação identitárias, os chamados movimentos anti-globalização, que insurgem num contexto reacionário, questionador, buscando ainda mais resgatar suas raízes culturais, em contraposição atravr seus valores culturais.da mais resgatar seus valores culturais. avanços daializaçpo real o aco as premissas disciplinadoras, que tentam gerenciar nossas vontades e paixões. Dessa forma, a disciplina e antidisciplina fazem parte da mesma equação, tal como destaca Certeau apud Josgrilberg (2005).
O espaço geográfico não é homogêneo, ele é "fragmentado e articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de símbolos e campo de lutas" (CORRÊA, 2002, p. 9). Logo, é dotado de heterogeneidade, sendo vivaz pela sua dinamicidade das diferentes culturas, que coexistem e imprimem suas singularidades nas formas espaciais. É a diversidade e não a homogeneidade que identifica o espaço. Parece-nos que o interesse em caracterizá-lo através da perspectiva generalizante obnubila aspirações hegemônicas.
A geografia, por muito tempo serviu de alicerce para as bases civilizadoras, que através de uma hierarquização cultural baseada no viés determinista, subjugou diversas etnias, tornando-se não apenas conivente com o processo de sacarificação cultural, que tentou sucumbir experiências milenares em prol de novos comportamentos, mas tornou-se meio de operacionalização e justificação dessas perversidades sociais. Como ratifica Santos (2004) o chamado determinismo e possibilismo de Ratel e La Blache, respectivamente, serviram apenas para retardar a evolução da geografia.
Porém, essas teorias não provocaram somente a involução do pensamento geográfico, pois deixaram grandes cicatrizes, sobretudo nos povos inferiorizados a que outrora tem buscado desconstruir essas atrocidades históricas, defendendo a pluralidade cultural, abrindo-se ao sincretismo com respeito a diferenciação cultural, como destaca Scherer-Warren (1999).
Atualmente, além de convivermos com resquícios embrutecedores das idéias deterministas, que estereotipam pejorativamente a cultura nordestina, a cultura africana, por exemplo, ainda contamos com tecnologias avançadas de controle e dominação do individuo, que tentam impor um único modo de pensar e ainda cinicamente fazem-nos acreditar que somos livres, quando estamos sob forma de dominação. Nesse sentido, não é difícil encontrar geógrafos que oferecem subsídios a esses pensamentos elitistas. A guisa de exemplo, tem-se àqueles que pregam a homogeneização do espaço e a desterritorialização cultural, como foi supracitado.
Entretanto, segundo Claval (1997), a geografia cultural moderna tem desenvolvido abordagens bastante significativas, sendo norteada a partir de três eixos igualmente necessários e complementares:

(...) Primeiro, ela parte das sensações e das percepções; segundo, a cultura é estudada através da ótica da comunicação, que é, pois, compreendida como criação coletiva; terceiro, é apreendida na perspectiva da construção de identidades, insiste-se então no papel do indivíduo e nas dimensões simbólicas da vida coletiva (CLAVAL, 1997, p. 92).

A geografia valoriza os conhecimentos que o indivíduo apreende através das inter-relações sociais, investigando os discursos e suas respectivas representações, atentando para o processo de endoculturação, já que cada um mesmo estando sujeito a padrões instituídos de comportamento, imprime sua subjetividade, de forma que essas representações, "constituem um universo mental que se interpõe entre as sensações recebidas e a imagem construída em seu espírito" (CLAVAL, 1997, p. 93). Assim, da-se ênfase ao processo de interiorização individual, que dará novo sentido as representações postas. "Diferentes usos e diferentes práticas produzem uma pluralidade de resultados" (JOSGRILBERG, 2005, p. 84).
Os geógrafos também concebem a cultura a partir da circulação da informação entre os indivíduos, tratando a oralidade como elo social, pois é a partir da comunicação que as pessoas interagem entre si e que as culturas permanecem vivas na memória e nas práticas de um povo. Por meio dessa língua falada perpetua-se valores e simbologias culturais, possibilitando que diferentes gerações tenham conhecimento sobre as formas de vida e os costumes daqueles que lhes antecederam, fazendo com que a informação circule incessantemente entre os indivíduos.
É justamente por meio desses fluxos informacionais que se institui os padrões de comportamento, caracterizando a cultura como um "conjunto complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costumes e várias outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade" (MELO, 1987, p. 40). Mas, aqui cabe inferir a relação intrínseca entre cultura e identidade, logo, a cultura, não deve ser utilizada como veículo de homogeneização, que impõe ao indivíduo formas uníssonas de pensar e agir e que atribui juízos de valores a todos aqueles que não se adequam as suas concepções e hábitos culturais. Não se deve perder de vista o respeito a alteridade, bem como ter consciência de que várias culturas coexistem no espaço social, e que, portanto, elas não se superpõe.
A cultura dar "sentido à existência dos indivíduos e dos grupos nos quais eles estão inseridos" (CLAVAL, 1997, p. 96). Nessa perspectiva, como posso intervir naquilo que dá sentido a vida do outro? Como posso tentar impor as minhas concepções, de forma desterritorializar culturalmente o outro? Como posso ser perverso a tal ponto, de negar a sabedoria do senso comum e ocultamente utilizá-las com interesse mercadológico, tal como fazem alguns farmacêuticos com a sabedoria popular indígena?
É extremamente necessário que reconheçamos a existência e atuação das tecnologias que tentam gerenciar nosso tempo, nosso corpo e nossa mente, para que possamos estar atentos e reflexivos sobre a nossa conduta perante esses abusos de dominação, e que não venhamos a materializar resultados que sustentem ainda mais essas idéias perversas e excludentes, tal como fez a geografia por algum tempo. Assim, enfatizamos o desafio de se pensar na interculturalidade como forma de harmonizar as relações humanas e de respeitar as concepções do outro, vivendo a partir do que Santos (2001) denomina de sociodiversidade.
Jamille da Silva
REFERÊNCIAS:
CLAVAL, Paul. As abordagens da geografia cultural. In: CASTRO, I. E. et all. Explorações Geográficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997.
CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço urbano. São Paulo: Ática, 2002.
COSTA, Rogério H. da. O mito da desterritorialização: do "fim dos
territórios" à multiterritorialidade. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.
JOSGRILBERG, Fábio B. Cotidiano e invenção: os espaços de Michel de Certeau. São Paulo: Escrituras Editora, 2005. (Coleção ensaios transversais; 32)
MELO, Luís Gonzaga de. Antropologia cultural, objeto e método. In: MELO, L. G. de. Antropologia cultural: iniciação, teoria e temas. Petrópolis: Vozes, 1987.
SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova. 6 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004.
______. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 5 ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.
SHERER-WARREN, Ilse. Cidadania sem fronteiras: ações coletivas na era da globalização. São Paulo: Hucitec, 1999.
______. Redes de Movimentos Sociais. 2 ed. São Paulo: Layola, 1993.

O senso comum e a vida cotidiana

Imprescindível é reconhecer a importância de nossas práticas cotidianas inseridas no contexto amplo de manifestações do senso comum, pois, são concernentes ao ser, ao ter, ao fazer, ao querer e ao viver em si. Trata-se de visualizar na vida banal e corriqueira como as necessidades e facilidades de sobrevivência se traduzem em atos culturais.
Propagam-se incessantemente visões estereotipadas da cultura, sujeitando-a ideologicamente a assumir valores nem sempre condizentes com a totalidade de sentimentos, emoções, ações, palavras, experiências e vivências ligadas a sua essência. Ou seja, os modelos supérfluos e efêmeros de vida de alguns indivíduos forjam almejos e valores sobre coisas que não lhes possibilitam estar condignos na inserção em questões relativas a vida do homem, como é o caso da cultura e do senso comum a ela atrelado. Neste sentido, Martins (2000) afirma que as instabilidades permanentes na vida cotidiana, são influenciadas por choques que interrompem a propagação do valor real dos fenômenos, com interpretações que, segundo ele, Schutz define como realidades múltiplas, na passagem de um mundo a outro, assim:

Embora a vida cotidiana seja o mundo que dá sentido aos demais, enquanto referência, aparece subvertida e alterada nesses outros mundos. O que nos mostra as descontinuidades que atravessam a vida cotidiana todos os dias (MARTINS, 2000, p.62).

Dessa forma, deve - se empreender ações objetivas e subjetivas no sentido de socializar a idéia de que a cultura é oriunda da ‘naturalidade’. Ela realiza-se e sempre realizar-se-á através das práticas cotidianas e do senso comum presentes no ‘meio’, negligenciando e/ou repudiando sua imagem propagada de objeto acessado e passível de constantes conceitualizações ou interpretações.
O senso comum é singular, e está intimamente relacionado aos gêneros de vida estabelecidos em diferentes contextos espaço-tempo. Ser não permissivo quanto a aceitação e valoração do senso comum é negar não somente o ‘outro’, como também a si mesmo. A verdade das coisas não deve ser vulgarizada de maneira tão banal como alguns desejam, desconstruir estes aparentes modelos de verdade é tarefa árdua, pois, trata-se de lidar com indivíduos que são complexos por inerência. Isso não é exagero, basta cada qual auto-analisar-se como elemento de um todo, e como ator num palco de encenação (existência) cujo objetivo é socializar-se e aderir mesmo que regidamente a estas socializações.
Assim, pode-se entender, em parte, que as relações sociais podem contribuir na eliminação de alguns equívocos no que se refere à compreensão do senso comum e da vida cotidiana. Em virtude disso, concorda-se com Martins quando expõe a idéia de que,

O senso comum é comum não porque seja banal ou mero e exterior conhecimento. Mas porque é conhecimento compartilhado entre os sujeitos da relação social. Nela o significado a precede, pois é condição de seu estabelecimento e ocorrência. Sem significado compartilhado não há interação [...] já que o significado é reciprocamente experimentado pelos sujeitos (MARTINS, 2000, p.59).

No mais, pretende-se incutir uma pequena centelha de inconformismo quando da análise que envolve a complexidade, valoração e propagação do senso comum como ato eminentemente cultural e cotidiano. Nós, indivíduos, pertencemos a um todo, que é a vida! Por isso mesmo somos diferentes e temos que respeitar e ser respeitados de acordo com as singularidades. No momento que surgem resistências e desvios quanto ao viver ‘naturalmente’ (bom senso), que não está pautado em regimes de controle, deve-se haver e/ou estabelecer uma transposição de situações imbuídas de respeito e análises não pré-julgadas, pois, a identidade cultural é um imaginário subjetivo e valorado por atores específicos.
Destarte, ninguém tem o direito de emitir juízo sobre fenômenos ou fatos antes de conhecê-los a fundo. Essa situação é muito complexa, já que nem mesmo os membros de uma cultura são capazes de absorver todos os elementos que a envolve. Enfim, compreender uma cultura depende, em parte, dos vínculos e das afinidades estabelecidos com ela, além da visualização do senso comum como um processo de endoculturação, onde os indivíduos de forma específica compartilham sensações, valores, ações, gestos, palavras e experiências num determinado meio vivente.


Hercules de Oliveira Ferreira


REFERÊNCIA:
MARTINS, José de Souza. A Sociabilidade do homem simples: cotidiano e história na modernidade anômala. São Paulo: Hucitec, 2000, 210p.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

As táticas e a interculturalidade

Segundo Josgrilberg (2005) embora Certeau não apresente reflexões estanques em relação às idéias de Foucault, este primeiro é mais versátil, concebendo não apenas a disciplina, mas também destaca a antidisciplina. Os lugares são determinados pela organização das estratégias, que estabelecem uma relação de poder intrínseca sobre o tempo, gerenciando nossas atividades. Porém, os discursos, necessários a instituição do poder não são sempre consumidos de forma passiva, sem uma reação corporal, pois “o corpo desenha suas correlações essenciais e rejeita espontaneamente o incompatível” (CERTEAU, p. 182, apud JOSGRILBERG, 2005, p. 58).
As fissuras encontradas dentro do lugar controlado permitem a conformação de um espaço, “o qual não se pode possuir, mas usar” (Ibidem, p. 74). Então, nesse processo, surge o que convencionou-se intitular de marginalizados, que na verdade, representam àquelas pessoas que buscaram um outro caminho que não seja aquele que estava posto e que é tido como base comum para a maioria da totalidade. O desenvolvimento dessas operações não entoam com as exigências do aparato disciplinar, logo não possuem um lugar específico, não se baseiam na austeridade, já que estão sempre em movimento, recebendo a designação do termo “táticas”, proposta por Certeau.
Essas formas de resistência impulsionam os indivíduos ao respeito a alteridade, bem como direciona-os a perspectiva de horizontalidade, cuja forma de relacionamento social não é definida por um grupo seleto de pessoas, que acredita ser proprietário do poder, definindo a maneira de utilização do tempo e do corpo. Justamente, por constituir-se numa prática diferenciada aos métodos estratégicos do lugar é que se estabelece referenciais alicerçados na heterogeneidade, desvincilhando-se das formas imperiais, inibidoras de quaisquer comportamentos estranhos.
Porém, existe uma questão emblemática nessa discussão, pois há aqueles que não concordam com as imposições do aparato disciplinar, mas criam outras formas uníssonas de agir. Nesse sentido, certos movimentos envernizam-se do discurso de pluralidade cultural, de interculturalidade, entretanto apresentam práticas que consideram ser as únicas capazes de transcender o indivíduo, construindo novos paradigmas, a medida que pecam ao atribuir juízo de valor sobre as outras formas de viver. Esses são alienados, pois não percebem ou não se permitem percebem que o “espaço” na perspectiva de Certeau não é seu substrato referencial e sim, a constituição de um novo “lugar”. E ainda, acham-se no direito de criticar o outro que está sob controle disciplinar, quando estes se encontram em posição de disciplinador.
Ora, esse não seria um outro sectarismo? Como é possível ter coerência naqueles que saem da condição de submissos para concretizar novos imperialismos? Onde se encontra a valorização do “conhecimento dos subjugados”?
É claro, que esses fatos sinalizados não são isolados, mas também não são generalizados, pois a dialética lugar-espaço-lugar não se caracteriza como um círculo vicioso, mas como manifestação concreta das operações sejam elas estratégicas de organização ou táticas. Apesar da interculturalidade ser algo difícil de se conceber, alcançá-la não é impossível e perpassa pela busca eminente do respeito as crenças e vivências do outro.

Jamille da Silva Lima, em 08/04/2008.


Referências

JOSGRILBERG, Fábio B. Cotidiano e invenção: os espaços de Michel de Certeau. São Paulo: Escrituras Editora, 2005. (Coleção ensaios transversais; 32)

A fila: um lugar e/ ou espaço?

Foucault apud Josgrilberg (2005) destaca o poder do “aparato disciplinar” sobre a sociedade, na qual algumas ações são desenvolvidas tendo em vista possibilitar o controle social, instituindo as tecnologias de poder que gerenciam o tempo e o corpo. Certeau (1980) apud Josgrilberg (2005) dialoga com as proposições de Foucault, elaborando o conceito de lugar controlado. Neste sentido, estratégias são criadas para determinação de um lugar, cuja premissa é o estabelecimento da disciplina, que colonializa nossas atividades.
Se atentarmos para essas sinalizações, constataremos que a fila constitui-se num lugar controlado, tendo dias delimitados e locais para sua existência e atuação. Muitas vezes, mensura-se até a quantidade de pessoas que poderão ter seus objetivos assistidos naquele “lugar”, controlando até o tamanho da fila. Há também uma hierarquização, pois cada pessoa é definida a partir da sua posição e sair desta organização ordinária, implica na perca da sua localização no lugar em tela.
O uso das estratégias é ainda mais explícito quando constatamos a seletividade sócio-econômica que as filas não conseguem ocultar. Por esta razão, nossos olhos muitas vezes já não estranham quando vêem somente pessoas de baixo poder aquisitivo enfrentando as grandes filas, o que contribui para que essas práticas tornem-se comuns e aceitáveis.
A classe social economicamente privilegiada não precisa “perder tempo” nesses lugares controlados. Mas, é claro que isso não garante que elas estejam no que Certeau denomina de espaço, pois ter determinadas prerrogativas não significa ausência de controle. A classe solvável, não necessita ficar durante horas em pé esperando algum tipo de atendimento, já que geralmente lhe é reservado salas adornadas de suntuosidade e conforto, porém nesses “lugares”, tidos como espaços, reinam a hipocrisia, a falta de compaixão e a competitividade, pois as relações interpessoais são orquestradas pelo capital, interessando sempre obter lucratividade, mesmo que para isso tenha que sobrepor-se em relação ao Outro.
A busca eminente e a materialização do controle podem ser verificadas tanto numa fila, quanto numa luxuosa sala de atendimento. Todavia, apesar do desconforto e das tribulações que as grandes filas nos impõem, elas também constituem-se num espaço de solidariedade, enquanto que no lugar supracitado acessível a poucos, a manifestação escalar desse sentimento que horizontaliza as relações sociais é muito menor, pois muitos são estruturados de acordo o seu montante financeiro, conduzindo suas ações por uma concepção de verticalidade.
Além disso, essa idéia de hierarquização social contribui para a fortificação dos conceitos unos e estáticos, visto que atribui-se intrinsecamente rótulos sempre pejorativos aos marginalizados sócio-economicamente, acentuando a miopia desses agentes inertes na perspectiva unilateral, que se inibem a ascender-se a uma proposta que não exclui a possibilidade de novos entendimentos.

Jamille da Silva Lima, em 07/04/2008.


Referências
JOSGRILBERG, Fábio B. Cotidiano e invenção: os espaços de Michel de Certeau. São Paulo: Escrituras Editora, 2005. (Coleção ensaios transversais; 32)

quinta-feira, 10 de abril de 2008

A Fila do Bolsa Família








Todo mês, durante uma semana, é realizado o pagamento do programa Bolsa Família na cidade de Teofilândia. Notavelmente é mais um fato comum dentro da dinâmica social e cotidiana dos moradores da cidade. A grande maioria dos beneficiários são oriundos da zona rural, que deslocam-se em transportes compatíveis com a situação de vida (predominância de “paus de arara”). É banal o encontro de grupos de diferentes povoados, que sob um escaldante sol (exemplificação muito observada) permanecem em meio à grande fila na espera do atendimento ou receber o dinheiro.
Neste lugar, diverso em termo de desejos, padrões de vida e carga cultural impõe-se subjetivamente e de forma objetivamente real “um cântico de acolhimento” e de cooperação, no que concerne à palavras, conselhos ou referências ligadas a estilos de vida consagrados. Lá, falar e/ou expressar-se é obrigação! O outro é importante na medida que lhes é atribuída e manifestada tal designação. Comer a “marmita” quente no sentido lógico e literal (sol), em meio a fila, é algo normal, pois, negar o que se passa no habitat normal que é a roça é inconcebível, e não compatível com sua endoculturação.
A materialização e/ou manifestação de cargas de vida, propagam-se intensamente em forma de casos cotidianos vividos, histórias do passado experimentado e berço de aprendizado, piadas ou até mesmo situações ocorridas na própria fila. Por instantes, esquece-se do objetivo formal devido a embriaguez do “mundo pessoal” comum e arraigado de ações culturais, a fila anda, então, retorna-se o pensamento para as angustias que os acometem diariamente. O que fazer com o dinheiro recebido? Ou seja, qual o sentido de privilégio para quem nunca teve privilégio de ter privilégios? No mais, a necessidade de existência e sobrevivência impera ante a realidade sofredora e o momento de descontração na fila.
Trocar experiências e flexibilizar a situação é o ato de significação existente. Provavelmente situações como essa, são mais difíceis ou improváveis de acontecerem quando não há um principio motivador generalizado que as cause, ou alguma obrigação ou necessidade ante algo formalizado e legal.
Enfim, a fila do Bolsa Família é muito mais do que aparenta ser e do que realmente é. Entendê-la é manifestar um olhar compatível ou afim com tais situações. É estar endoculturizado com a endoculturação do próximo, assim impondo e/ou manifestando ações de respeito e desejo de aprendizagem ante a cultura resplandecente e irradiante no “meio vivente”. É preciso desconstruir algumas aparentes verdades, e valorizar as imagens que conduzem nossas ações, tendo como um dos pressupostos a valoração da cultura, não como uma forma de acesso generalizado, e sim como algo inerente à consciência e a inconsciência de cada indivíduo.

Hercules de Oliveira Ferreira (em 08/04/08)


REFERÊNCIA:
MELLO. Luiz Gonzaga de. Antropologia cultural: Iniciação, temas e teorias. Petrópolis: Vozes, 1987.

quinta-feira, 27 de março de 2008

HISTORIA DA VAQUEJADA DE SERRINHA


A história da Vaquejada de Serrinha remonta ao ano de 1967, quando Valdete Carneiro e Neném de Maroto resolveram criar um evento que significasse a bênção e a confraternização dos vaqueiros da região. Era o surgimento da festa. Na época, e nos primeiros anos de existência, já era inconteste a importância da festa, que além de gerar renda e movimentar a economia da região, colocava o interior em evidência na época do evento. Os principais ingredientes da Vaquejada sempre foram e são: a alegria e a vontade de participar.
Com a participação dos empresários Vardinho Serra e Carlinhos Serra, a festa ganhou força e prestígio, os prêmios simbólicos tornaram-se valiosos. A estrutura se desenvolveu de tal sorte que sempre havia mega-shows nas festas, com a apresentação de artistas nacionais, reunindo mais de 150 mil pessoas em 2001, superando-se ano a ano. A Vaquejada comprovou ser um dos maiores eventos culturais e esportivos do Brasil.
Atrai ao seu redor inúmeras possibilidades de empregos, negócios, além de outras festas, favorecendo o turismo e proporcionando um clima de descontração. O vaqueiro é um dos principais representantes de Serrinha, e é na Vaquejada que ele tem a sua justa homenagem.


Serrinha - BA, o jardim do sertão


Localizada na ro sertão. egião nordeste do estado da Bahia, a 170 Km de Salvador, 60 de Feira de Santana e a 480 metros acima do mar, Serrinha, cidade tranqüila, destaca-se pela hospitalidade com que recebe seus visitantes. Possui hotéis, bares e restaurantes para todos os tipos de gostos e, por já estar acostumada a abrigar grandes eventos, a sua população de cerca de 75.544 habitantes sabe da importância das festa populares como: Semana Santa, São João e a vaquejada que significa prosperidade e crescimento, criando-se mais de 600 empregos diretos e fazendo circular mais de R$ 2,5 milhões na economia local. Destaca-se também o comércio, pecuária de gado de corte e a criação de bode, e tendo também instaladas na cidade três fábricas de calçados.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Identidade Cultural

Quando falamos em identidade, vem à cabeça tudo aquilo que nos pertence e nos é comum. É hora de pensar então na nossa identidade cultural, nos nossos costumes, no nosso dia-a-dia, em cada momento do nosso cotidiano, como esse movimento interage conosco, onde é mais forte e mais comum. A primeira questão é: Como ela formulada?!
A questão da construção da nossa identidade ocorre principalmente hereditariamente, tudo aquilo que nossos antepassados acreditavam foi perpassando por anos e anos até chegar a nossos dias atuais, porém remodelado por novos valores que quase sempre acabam mudando totalmente o sentido do que lhe era imposto no princípio.
Discorrendo sobre nossa nação, podemos perceber que acabamos falando em Brasis e não num só Brasil. É bem simples observar essas divergências culturais. As regiões brasileiras são na maioria das vezes dotadas de tradições diferenciadas, e isso percebemos quando confrontamos o Nordeste com o Sul do país. Diferenças essas que ultrapassam raça, físico, crenças, clima, financeiro, e até movimentos internos.
Por conseguinte essas variações, não muito longínquas, acabam influenciando umas às outras, eis então mais uma problemática. Como conseguir não deixar deteriorar a cultura raiz, e substituir ou misturar com as demais presentes na sociedade atual? Como fazer com que os meios de comunicação social não torne fragmentada a cultura de cada localidade? E principalmente, porque toda manifestação relacionada à cultura tem que ser desempenhada em nos “lugares escondidos” e/ou distante dos olhos da população?
Podemos e devemos conservar tudo aquilo que nos foi deixado através das manifestações sociais dos nossos antepassados, não como uma ação vergonhosa ou marginalizada como muito observamos na sociedade atual, mais sim com exultação de mostrar para todos que cultura é uma construção fundamental, e que na ausência dela nos tornamos uma sociedade sem “alicerce” e frágeis perante o fortalecimento da cultura única mundial e nos tornando um povo sem identidade própria ou sem identidade.
Marcos Oliveira Queiroz

terça-feira, 18 de março de 2008

Cultura?

A cultura é inerente à vida humana em seus múltiplos aspectos. É ela que diferencia o homem dos outros animais, estando a distinção pautada na inconsciência, que prevalece a atividade animal e na consciência, existente ao ato humano (MELO, 1987).
Mas afinal o que é cultura? São inúmeras as definições encontradas, tanto no senso comum (entre aqueles que não desenvolveram um estudo sistematizado), quanto no meio acadêmico-científico. Sintetizando, simploriamente as diversas concepções, a cultura compreende o conjunto de conhecimentos, crenças, artes, costumes e comportamentos habituais que os membros de uma sociedade adquirem, materializam e perpetuam.
A cultura é produzida na mente humana, no interior particular de cada indivíduo, no entanto seja qual for a sua natureza, indubitavelmente precisa ser exteriorizada num contexto coletivo, social. Segundo Geertz, a cultura não é nunca particular, mas sempre pública.
Outro aspecto importante que é válido ressaltar é o uso corrente do termo cultura relacionado ao conhecimento, à capacidade intelectual, ponderando a existência de pessoas mais cultas, culturas superiores, em detrimento das demais. Na verdade, nenhuma cultura é inferior ou superior a qualquer outra. Notadamente, as que são menos valorizadas e que - em muitas comunidades estão praticamente extintas - são aquelas consideradas “tradicionais”, “ultrapassadas”. Dessa forma, tal concepção desconsidera que a cultura é o conjunto de experiências vividas pelo homem durante longos períodos. Assim, supervalorizam as culturas desenvolvidas a partir de um mundo digitalizado, de aparatos tecnológicos, ridicularizando as crenças, costumes, produções, habilidades que não se encaixam com os atuais paradigmas.
Contudo, se é que podemos definir cultura verdadeiramente, percebendo e reconhecendo seus múltiplos aspectos e ramificações, ou melhor, transitar entre as diversas análises de tal fenômeno e principalmente num contexto local, com um olhar sensível sobre o cotidiano, que seja considerando as diversas instâncias do ser humano, individual e social, criativamente e coletivamente.

Lorraine de Lima Ferreira

Referência:
MELO, Luís Gonzaga de. Antropologia cultural: iniciação, teoria e temas. Petrópolis: Vozes, 1987.

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