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sexta-feira, 11 de abril de 2008

A fila: um lugar e/ ou espaço?

Foucault apud Josgrilberg (2005) destaca o poder do “aparato disciplinar” sobre a sociedade, na qual algumas ações são desenvolvidas tendo em vista possibilitar o controle social, instituindo as tecnologias de poder que gerenciam o tempo e o corpo. Certeau (1980) apud Josgrilberg (2005) dialoga com as proposições de Foucault, elaborando o conceito de lugar controlado. Neste sentido, estratégias são criadas para determinação de um lugar, cuja premissa é o estabelecimento da disciplina, que colonializa nossas atividades.
Se atentarmos para essas sinalizações, constataremos que a fila constitui-se num lugar controlado, tendo dias delimitados e locais para sua existência e atuação. Muitas vezes, mensura-se até a quantidade de pessoas que poderão ter seus objetivos assistidos naquele “lugar”, controlando até o tamanho da fila. Há também uma hierarquização, pois cada pessoa é definida a partir da sua posição e sair desta organização ordinária, implica na perca da sua localização no lugar em tela.
O uso das estratégias é ainda mais explícito quando constatamos a seletividade sócio-econômica que as filas não conseguem ocultar. Por esta razão, nossos olhos muitas vezes já não estranham quando vêem somente pessoas de baixo poder aquisitivo enfrentando as grandes filas, o que contribui para que essas práticas tornem-se comuns e aceitáveis.
A classe social economicamente privilegiada não precisa “perder tempo” nesses lugares controlados. Mas, é claro que isso não garante que elas estejam no que Certeau denomina de espaço, pois ter determinadas prerrogativas não significa ausência de controle. A classe solvável, não necessita ficar durante horas em pé esperando algum tipo de atendimento, já que geralmente lhe é reservado salas adornadas de suntuosidade e conforto, porém nesses “lugares”, tidos como espaços, reinam a hipocrisia, a falta de compaixão e a competitividade, pois as relações interpessoais são orquestradas pelo capital, interessando sempre obter lucratividade, mesmo que para isso tenha que sobrepor-se em relação ao Outro.
A busca eminente e a materialização do controle podem ser verificadas tanto numa fila, quanto numa luxuosa sala de atendimento. Todavia, apesar do desconforto e das tribulações que as grandes filas nos impõem, elas também constituem-se num espaço de solidariedade, enquanto que no lugar supracitado acessível a poucos, a manifestação escalar desse sentimento que horizontaliza as relações sociais é muito menor, pois muitos são estruturados de acordo o seu montante financeiro, conduzindo suas ações por uma concepção de verticalidade.
Além disso, essa idéia de hierarquização social contribui para a fortificação dos conceitos unos e estáticos, visto que atribui-se intrinsecamente rótulos sempre pejorativos aos marginalizados sócio-economicamente, acentuando a miopia desses agentes inertes na perspectiva unilateral, que se inibem a ascender-se a uma proposta que não exclui a possibilidade de novos entendimentos.

Jamille da Silva Lima, em 07/04/2008.


Referências
JOSGRILBERG, Fábio B. Cotidiano e invenção: os espaços de Michel de Certeau. São Paulo: Escrituras Editora, 2005. (Coleção ensaios transversais; 32)

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